quinta-feira, 14 de março de 2024

Origem do feriado da Data Magna


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Data magna significa uma data de grande relevância. No estado do Ceará 25 de março é uma data magna, pois é um dia importante para a nossa história. Foi em 25 de março de 1884 que, oficialmente, foi abolida a escravatura na então província do Ceará. Em todo o Império do Brasil ainda prevalecia tão cruel instituição, somente em 1888 seria abolida em todo território nacional (Lei Áurea).  Vários foram os motivos para o pioneirismo cearense: além da luta e resistência dos escravizados deve-se destacar movimento abolicionista que rompeu os ciclos intelectuais e impulsionou um movimento popular liderado pelos jangadeiros.  A recusa dos jangadeiros em transportar escravizados, ainda em 1881, inviabilizado o tráfico interprovincial. A coragem dos jangadeiros liderados por Chico da Matilde, o Dragão do mar, repercutiu em todo o Império brasileiro, fazendo com que, em sua passagem pelo Ceará, o abolicionista José do Patrocínio acunhasse esta terra como sendo da luz. Portanto a pressão popular aliada ao menor peso da mão de abra escrava na economia local (Ceará era uma província pobre) permitiu a abolição de tão terrível mercado de gente nas terras cearenses. Em 2011 foi aprovado o projeto de lei que tornaria a data feriado estadual. Uma curiosidade é que em 25 de março de 1824 foi outorgada a primeira constituição do Brasil, portanto 25 de março também é dia da carta magna, mas não é esse o motivo do feriado, embora muitos ainda confundam o nome do feriado. 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Uma analogia sobre o viver

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Guimarães Rosa lindamente sintetiza o viver: “Viver é um rasgar-se e remendar-se...”. Quantas vezes fomos rasgados pelas circunstâncias, pelos sentimentos mal administrados, por escolhas erradas, por fatalidades ou por pessoas cruéis? Independente das vezes e das razões nós nos remendamos, por quem? Por nós mesmos. Embora em momentos de tristeza nos apeguemos a religiões, filosofias de vida, mudanças de hábitos ou a pessoas, o costurar-se é algo que primeiramente nos cabe. Essa capacidade de renascemos a cada adversidade, de nos reinventamos, esse movimento que é a vida é o que torna a analogia de Guimarães tão bela, pois é uma forma simples de explicar o caminho que percorremos enquanto nos construímos, enquanto existimos no mundo e o mundo existe em nós. Percurso breve e cheio de mistérios e só nos cabe enfrentá-lo com ou sem medo, para os quem têm medo, cabe-os administrar esse medo e para os que não têm (ou dizem não ter) cabe-os administrar a coragem. E talvez seja isso; viver com a dose certa, qual seria? Cabe a cada um descobrir, assim como cabe a cada um encontrar a agulha certa para remendar-se. O tempo que levamos para tal reconstrução ou construção é relativo, ou seja, não é o mesmo para todos, portanto não tenhamos pressa, mas tomemos cuidado para não sermos devorados pelo tempo, pois o tempo transforma, mas também devora como no mito de Cronos (deus do tempo) que tudo devorava.

domingo, 23 de agosto de 2020

Da dúvida filosófica à dúvida distorcida

A dúvida foi e continua sendo importante para a formação do pensamento crítico. Historicamente foi a dúvida que fundou o pensamento racional, ao negar as explicações mitológicas como única forma de compreensão do mundo, os gregos fundaram o pensamento filosófico. Porém foi difícil não só para os gregos, mas para todos aqueles que ousaram desafiar a tradição, impor o questionamento, a dúvida, o pensamento crítico. Pois os dogmas também foram importantes para a fundação do que entendemos por civilização. As crenças sejam em deuses ou em poderes sobrenaturais de alguns homens sustentaram a existência de diversas civilizações. Portanto a dúvida nunca foi vista como algo benéfico por aqueles que queriam mante-se no poder. O desenvolvendo da ciência moderna colocou em xeque muitas certezas cultivadas pela humanidade. O homem teve seu narcisismo ferido com Copérnico ao afirmar que não somos o centro do universo, com Darwin ao afirmar que somos apenas primata superdesenvolvidos e com Freud ao trazer a tona o inconsciente, sim não dominamos tudo. Hoje a dúvida já não é, em grande parte do mundo, motivo para prisões e mortes e isso é muito benéfico para o desenvolvimento do pensamento. Mas nem tudo "são rosas", pois com o advento da internet surge uma nova modalidade de dúvida: a dúvida sem fundamento, a dúvida baseada em nada, a dúvida difundida por “pensadores” sem ligações com a ciência que afirmam certas verdades e tentam destruir anos e anos de pesquisas cientificas, esses “pensadores” através de canais na internet difundem suas verdades e levam ao usuário leigo um verdadeiro radicalismo o que tem gerado vários movimentos que negam eventos históricos como o holocausto, negam a eficácia da medicina como o movimento antivacina e até o formato do planeta. Tudo isso torna nosso tempo um período tenso, com muitas informações distorcidas. Por isso se faz cada vez mais necessário à filtragem dessas informações e é sempre bom salientar que informação não é conhecimento e que os radicalismos são sempre perigosos.

terça-feira, 12 de maio de 2020

A arte continua nos salvando porque a vida não basta




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Não tenho certeza de nada, mas a visão das estrelas me faz sonhar.
                                                                                                                    Vincent van Gogh


Quando o passado parece superado, alguns fantasmas voltam para nos assustar. E aqui estamos vivendo uma pandemia e de mãos atadas, fazendo a única coisa que podemos: isolamento social. Mesmo que, infelizmente, não seja a realidade de todos. Mas para os que estão algo tem tornado a realidade menos dolorosa. Este algo se chama arte em suas mais diversas expressões. Uns leem, outros ouvem músicas, outros fazem e compartilham músicas, outros escrevem, admiram ou sentem. E isso tem amenizado a angustia. Relendo uma entrevista que o saudoso Ferreira Gullar concedeu à Revista de História da Biblioteca Nacional, em agosto de 2010, extraí este trecho que explica o papel que ela desempenha em nossas vidas: “Arte é uma coisa do ser humano. A arte existe porque a vida não basta, a vida é pouca. E a arte nos trás coisas belas, fascinantes, atordoantes, maravilhosas. É para isso que ela existe.” Ainda bem que ela existe e continua nos salvando da realidade e nos inspirando a mudá-la. Daqui a algum tempo o que vivemos será passado e ela, a arte, estará lá, pois iremos sobreviver e enquanto houver ser humano, haverá arte.

sábado, 8 de junho de 2019

A escolha pela ignorância

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Saldo

a torneira seca
(mas pior: a falta
de sede)
a luz apagada
(mas pior: o gosto
do escuro)
a porta fechada
(mas pior: a chave
por dentro)
                  
No poema acima José Paulo Paes nos leva a uma profunda reflexão sobre a liberdade. Liberdade, esta palavra que nos é tão cara a qual, segundo Sartre, estamos condenados. A liberdade é uma condenação porque mesmo que fujamos dela ainda assim estamos  praticando-a, pois só uma pessoa livre pode escolher pela não liberdade. Retomando o poema podemos imaginar um lugar com uma luz, porém apagada e dentro deste recinto existe um sujeito que pode aceder esta luz e é aí que reside a liberdade: você pode escolher esforça-se para aceder, sair da zona de conforto, ou simplesmente acostumar-se com o escuro e até aprender a gostar. Sou professora e durante o dia paro muitas vezes para refletir sobre isto. Só lembrando que dentro da tradição ocidental o conhecimento é representado pela luz e nossa função enquanto herdeiros do Iluminismo é levar esta luz à escuridão, porém o que fazer quando o outro gosta do escuro? Ele está exercendo seu livre arbítrio para continuar na escuridão (ignorância). Mas pode uma pessoa conscientemente optar pela ignorância? Basta olhamos para o caos que nosso país está mergulhado, colocar a culpa só na ignorância é retirar a responsabilidade de quem optou por ela. Em tempos de escolarização e conhecimento gratuito ser ignorante é sim uma escolha que nos custa muito caro. Ignorante não é quem por algum motivo não pode aceder a luz, ignorante é quem teve a oportunidade de fazer e não o fez. 

domingo, 16 de dezembro de 2018

Somos mais felizes que nossos pais?



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“Tudo que é sólido desmancha no ar...” esta frase que também é o título de um famoso livro de Marshall Berman  retrata nosso tempo. Um tempo em que a solidez tornou-se difícil. Quanto mais corremos atrás do sucesso na vida acadêmica ou profissional mais nos afundamos em relações efêmeras, quantos amigos deixados para trás? Quantos amores jurados já não lembramos mais? Quantas promessas esquecidas, nomes, datas, lugares, pessoas. Esta é a realidade pós-moderna, onde os laços podem ser desfeitos com a mesma rapidez que se bloqueia alguém ou exclui da lista de contatos. Mas a pergunta é somos mais felizes que nossos pais? Quem está disposto a sacrifica-se para fazer alguém feliz? Disseram-nos para corremos atrás dos nossos sonhos, para sermos donos de nossas vidas e que um caminho exclui outro. Será que não podemos conciliar tudo isso com a solidez? Com relações duradouras e verdadeiras. Será que quando excluímos alguém de nossas redes sociais não transformamos estas pessoas em dados? O que estamos fazendo com o próximo e com nós mesmos?  Quando estamos com pressa tomamos café em copos descartáveis e logo jogamos fora, essa pressa nos dar o direito de fazermos o mesmo com as pessoas? A resposta é ética, não! Não podemos descartar nossas relações como descartamos objetos, se deu problema façamos como nossos avós e concertemos, há não ser que fira a nossa existência aí é outra conversa. Mas o que tento dizer com toda essa conversa filosófica é que precisamos voltar a acreditar no próximo e no amor, pois o amor nunca sai de moda, mas não é esse amor que arde e queima como chama, pois a chama logo se acaba, é o amor que conhece todos os defeitos do outro e não o abandona por isso, pelo contrário tenta transformá-lo em alguém melhor para um mundo melhor. 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Sobre a imaginação

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“Não há nada mais livre do que a imaginação humana; embora não possa ultrapassar o estoque primitivo de ideias fornecidas pelos sentidos externos e internos, ela tem poder limitado para misturar, combinar, separar e dividir estas ideias em todas as variedades da ficção e da fantasia imaginativa e novelesca.”
David Hume


Hume, notável filósofo e historiador britânico fala sobre a imaginação humana, seu poder de alcance, sempre partindo de algo preexistente. Cada qual usa a imaginação a seu bel-prazer, mas essa imaginação só é possível se conhecemos as ideias antes. Quando penso nas crianças de hoje com seus aparelhos digitais, ou mesmo quando peço a um aluno que elabore sua própria resposta, fico me perguntando o que ouve com a imaginação? Pertenço a uma geração que brincava com pedrinhas, frutinhos, argilas, das quais saiam, ou eram imaginados os mais variados brinquedos, as noites não eram entediantes, pois sempre havia a imaginação. Existe algo mais estranho do que uma criança entediada rodeada de brinquedos e mídias? 
Talvez um dos maiores vilões do professor, hoje, seja a falta de imaginação de seus alunos, ou até nossa, pois com o avanço da internet, as respostas ficaram mais rápidas, e a imaginação mais lenta. Lembro- me noites e noites pesquisando em velhos livros sobre assuntos dos quis tinha curiosidade, era uma verdadeira odisseia, tinha a magia sabe? Hoje tudo é fácil, rápido, os filmes tornam os livros populares, come-se um sanduiche , pensando ter comido um saboroso prato, então a imaginação aos poucos vai se ruindo.
Quem se lembra do Fantástico mundo de Bob? É sobre isto que tento argumentar, a magia da imaginação. Esta imaginação não é somente a capacidade de “viajar nas ideias”, a própria capacidade de inovação no trabalho, na família, no convívio social. Lembre-se que tudo começou com a curiosidade e , claro a imaginação do homem. 

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

História x Superficialidade

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Vamos imaginar que você está numa praia olhando o mar: um lençol azul de cetim. Vê, ainda, algumas pequenas ondas e sua espuma. Mas, será isso o oceano? Não. Nele, aquilo que não está visível é o que conta. Correntes submarinas arrastam seres vivos, correntezas provocam redemoinhos, o fundo do mar fervilha de criaturas, marés vêm e vão, trazendo e levando coisas. A história cabe como uma luva nessa imagem. Por vezes, o que vemos na superfície dos fatos, únicos e espetaculares – Proclamação da Independência, Abolição da Escravidão etc.-, encobre um mundo invisível feito de milhões de personagens anônimos, pequenos gestos repetitivos, objetos do cotidiano que esquecemos. A superfície lisa encobre movimentos profundos que ajudam a compreender o passado.  Mary Del Priore


Aqueles que não conhecem a história estão fadados a admirarem apenas a superfície dos fatos, a discuti-los sem reflexão, repetir discursos cristalizados e quem sabe até ensiná-los. A história é uma ciência profunda que requer análises e leituras profundas. A popularidade da história no cinema e novelas por vezes pode levar o público mais leigo a uma análise superficial. Conhecer a história, portanto, é mergulhar na imensidão de seu oceano e perceber que fatos não se constroem do dia para a noite, que para que um grande império como Roma caísse foram necessários anos e anos de pequenos acontecimentos que acumulados culminaram com aquele fato. Quando a questão é a história do Brasil muitos fatos são celebrados sem que haja uma análise mais historiográfica sobre os mesmos, infelizmente ainda não conseguimos romper por completo o paradigma da decoreba em nossas escolas, embora venhamos trabalhando muito encima disto, o que leva superficialidade da comemoração de fatos tais como a Independência do Brasil que segundo a história tradicional teria se dado no dia 7 de Setembro nas margens do Rio Ipiranga por um valente príncipe. Em quais circunstâncias? Quem de fato usufruiu desta independência? Qual a participação da população? Como a imagem independência foi forjada e para servir quais interesses? Respostas para tais perguntas só poderão ser respondidas mediante uma leitura (na falta de um livro especializado um bom livro didático serve), porém a falta de leitura tem levado a erros de análise gritantes não somente sobre o assunto em questão, mas sobre tantos outros. Constantemente somos atacados, insultados e “refutados” por pessoas sem a qualificação acadêmica necessária que têm a certezas absurdas que nós com anos e anos de dedicação à ciência não ousamos ter. 

Origem do feriado da Data Magna

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