segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ibiapaba pré-colonial

A Serra da Ibiapaba situam-se em meio ao semi-árido nordestino e noroeste do estado do Ceará. O Planalto da Ibiapaba constituiu-se, geograficamente e politicamente hoje, em faixa montanhosa que inicia a 40 km do litoral e se estende de carnaubal, Croatá, Guaraciaba do Norte, Ibiapina, São Benedito, Tianguá, Ubirajara e Viçosa do Ceará. Foi por esta região que começou o processo de colonização do Ceará, ocupada neste período por índios tabajaras, segundo FILHO:
Os dois povos ocupantes do litoral e dos sertões cearenses fracionavam-se em mais de sessenta tribos, das quais merecem ser nomeadas as seguintes, por sua importância ou pela evidencia que tiveram nas lutas da conquista do solo: os tabajaras, que habitavam a Serra da Ibiapaba e zonas circunvizinhas[1].
Os tabajaras pertencem ao grupo tupi, este grupo o primeiro a entrar em contado como os europeus, ocupavam as regiões litorâneas do Brasil, apesar de se dividirem em várias ramificações foram denominados genericamente de tupis, pois falavam uma língua parecida, chamada pelos colonizadores de língua geral. Os outros povos ocupantes do interior do território foram denominados de tapuias, segundo Pedro Théberge os tabajaras da Serra impunham seu domínio sobre diversas tribos os tapuias. E segundo o historiador do século XIX Batista Aragão teriam
sido agregados ao planalto ibiapabano na segunda metade do século XIV, procedentes das regiões são franciscanas onde terão entrado em desentendimento com Maiorais de sua parcialidade. Segundo informações coevas, o itinerário percorrido realizou-se por etapas, acostando inicialmente no litoral rio-grandense-do-norte, ou o que seria debaixo dessa denominação e em seguida a buscar o oeste do setentrião, alcançando o que seria o Cariri e logo em seguida a Ibiapaba.[2]
Durante os dois o primeiro século de colonização do território brasileiro a província do Ceará não foi efetivamente ocupada.  Após 1500 e até a ‘bandeira’ de Pero Coelho, em 1603, o litoral cearense foi objeto de execuções náuticas, assim de navegadores não oficiais, como de flibusteiros em busca de resgate com os índios.[3] Uns destes flibusteiros foram os franceses como nos mostra outro historiador do século XIX Raimundo Girão:
Outros viajantes nelas abicaram possíveis piratas negociando clandestinamente com os ameríncolas, notadamente corsários franceses, que perdiam a esperança de conquistar as terras de pau Brasil. Como salienta Capistrano, “de espírito mais aberto, inteligência mais ágil, gênio mais alegre, trato mais agradável, não viciados pelo contato diurtuno das raças inferiores, aprenderam, aceitaram os costumes, captaram as simpatias dos indígenas, isto é, dos produtores, e pouco a pouco foram preponderando[4].
Os franceses foram, portanto segundo essa visão os primeiros europeus a manterem contato com os tabajaras da Serra estabelecendo com estes uma relação de troca, sem tentar impor sua cultura, uma vez que as relações eram comerciais que dividiam interesses, como podemos como nos relata Batista Aragão:
Por volta de 1590, como resultado de entendimentos entre piratas franceses, estabelecidos no Maranhão e Tabajaras ali residentes ou em excussão rotineira, estabeleceu-se o elo flamengo do qual resultaria o entrosamento das duas civilizações diametralmente opostas, mas a se estreitarem por força de interesses mútuos.[5]
Segundo relatos destes historiadores do século XIX, não somente franceses estavam estabelecidos na Serra, mas também protestantes perseguidos na Europa que encontravam nestas terras o refúgio necessário. Porém deste período não encontramos na bibliografia consultada informações suficientes para uma discussão maior.
Em 1603 houve a primeira tentativa oficial de colonização do Ceará, com o açoriano Pero Coelho de Sousa. Este obteve de Diogo Botelho- então governador –geral do Brasil – título de capitão –mor e licença para organizar uma bandeira na pretensão de conquistar as terras que ficavam a norte, até o Maranhão, expulsar os estrangeiros. E além disto: A expedição (...) levava um aplano secreto de escravidão dos infelizes selvagens (...). [6].  , e ao mesmo tempo utilizava outros índios como soldados como podemos perceber em GIRÃO:

Em companhia de 65 soldados e 200 índios tabajaras e potiguaras, no meio daqueles o rapaz Martim Soares Moreno, o língua-mor Manuel de Miranda e os cabos de tropa Simão Nunes Correia, João Tataperica e João Cide, e, entre os últimos, os principais tabajaras Batatão, Caragatim e Mandiopuba, e o potiguara Carãquinguira, viajou pelas praias até o combinado ponto de encontro.[7]

O “guerreiro branco” Martin Soares morenos imortalizado no romance Iracema, faz parte desta primeira expedição. Algum tempo depois voltaria ao Ceará pra quitá-lo e entrar para a história e literatura como seu “fundador”. Podemos perceber na fala dos autores citados até então a maneira pejorativa, para nós defensores dessa nova perspectiva histórica, porém para os historiadores do século do início do século XX está era mais comum, pois estes mesmo sendo intelectuais que deixaram um rico legado sobre a história indígena do Ceará estavam presos as concepções históricas do século XVIII.
As guerras infligidas aos tabajaras e apreensão de franceses abriram uma frente na conquista da capitania do Maranhão e, ao mesmo tempo, o restabelecimento do controle português sobre estas terras. Pero coelho levou consigo índios aprisionados. Deixando um rastro de destruição é ódio.
Uma segunda expedição ficou a cargo dos padres jesuítas Francisco Pinto e Luis Figueira, que tinham como intuito chegar ao Maranhão e estabelecer contato com a nação tabajara. A expedição liderada pelo Pe.Francisco Pinto serviu, ainda, como modelo de ação jesuítica a ser implementado nos anos vindouros do Seiscentos, lançando as bases da cristandade no Meio Norte colonial.[8]
Depois de vencidos os obstáculos sertanejos a comitiva chegou ao topo da Serra Grande onde um modesto chefe-indígena já o esperava.[9] Os inacianos traziam consigo os índios levados por Pero Coelho a fim de demonstrar sua intenção para os com os moradores da Serra uma vez que estes se encontravam angustiados com a ultima “visita” dos portugueses em sua Relação do Maranhão Luis Figueira relata a situação os indígenas da região:
                  
Nesta grãde serra avia há dous ou três annos mais de setenta aldeias de gentio q`nos contarão por seus nomes, e depois de os braços Le irem e os receberam no principio com guerra se forão todos para o maranhão co medo dizendo q`se os braços tinhão destruydo todos os moradores do Jagoribe sendo recebidos delles com paz muito milhor os destruyrão a elles q`no principio os receberão com guerra, e etes pobrespor derradr.°. Já no maranhão lhe fizerão guerra as seus contrários co os francezes e destruyrão  muitos e outros morrerão de doenças contagiosas, e dos q`ficarão a metade se tornarão e vindo forão mortos e captivos dos tapuyas, de modo q`só seis ou sete chegarão por huma vez e por outra obra de 20 casais e nesta serra tinhão ficado só duas aldeotas, hua das quais He esta a que primeito chegamos por estar mais perto do mar e teria vinte casas e a outra alguns 50 ou sessenta.[10]

Segundo este relato a expedição de Pero Coelho deixou um verdadeiro rastro de destruição e desorganização destes povos restando somente suas aldeias das várias existentes antes da expedição de Pero Coelho. A aldeia a qual o Padre refere-se ter primeiro chegado é a aldeia de Diabo Grande, e a segunda onde havia mais casas é onde hoje provavelmente situa-se acidade de Viçosa do Ceará, a aldeia de Mel Redondo.

 Esta primeira tentativa, de reconhecimento, terminou de forma trágica para Francisco pinto, morto pelos cararijus.[11]A segunda tentativa de catequização se deu de 1656 a 1662 com os jesuítas Pedro de Pedrosa, Antonio Ribeiro e Gonçalo Veras, sob a supervisão de padre Vieira. Período fecundo de acirradas disputas no Estado do Maranhão, entre missionários, colonos e representantes do poder local, pelo controle da mão-de-obra indígena (...)[12] . Por falta de incentivos do governo esta expedição também não prosperou.



[1] FILHO, Cruz. História do Ceará (Resumo Didático) 2ª ed. Fortaleza: Secretária de Turismo e Desporto, 1987, p.29.
[2] ARAGÃO, Batista. Índios do Ceará e Topônimos Indígenas. 2ªed. Fortaleza: Barraca do Escritor Cearense, 1994.
[3] GIRÃO, Raimundo. Pequena História do Ceará. 2ªed. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1962, p.28.
[4] GIRÃO, Raimundo. Pequena História do Ceará. op.cit.,p.35.
[5]ARAGÃO, Batista. Índios do Ceará e Topônimos Indígenas. op.cit.,p.22-23.
[6] FILHO, Cruz. História do Ceará (Resumo Didático) op.cit.p.38.

[7] Id. Ibidem. p.40-41.
[8] MAIA, Lígio José de Oliveira. Cultores da Vinha Sagrada. Missão e tradução nas Serras de Ibiapaba. (séc. XVII). In: Trajetos- Revista de História da UFC. v.3.n°:6.2005.p.220.

[9] Ibidem. p.30.
[10] FIGUEIRA, Luis. Relação do Maranhão. In: Três Documentos do Ceará Colonial. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1967.p.85.
[11] Apesar de Luiz Figueira mencionar os Carajiru, Vieira na Relação da Missão na Serras de Ibiapaba [1660], menciona Tocarijus. Ambos, no entanto, segundo Lígio de Oliveira Maio, refere-se ao grupo Tarairiú.
[12] MAIA, Lígio José de Oliveira. Cultores da Vinha Sagrada. Missão e tradução nas Serras de Ibiapaba. ( séc. XVII). Op.cit, p.220.

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