quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A visão idealizada dos ameríndios: o discurso do "bom selvagem"



 Apesar de sair na frente não foi Portugal o primeiro a chegar à América, e sim a Espanha com o navegador Cristóvão Colombo em 1492. O encontro com o Novo Mundo e seus habitantes foi idealizado por muitos escritores, assim como pelo  próprio Colombo. Segundo ROUANET: “Foi sem dúvida Colombo o primeiro a relançar o antigo mito, reencontrando o bom selvagem no Novo Mundo. Num cenário paradisíaco, com árvores luxuriantes, que nunca perdiam suas folhas, flores e frutos maravilhosos, mel em abundância e revoadas de pássaros canoros, entre os quais reconheceu o rouxinol europeu, Colombo encontrou homens naturalmente bons.” No caso do Brasil podemos considerar que Caminha foi o primeiro a idealizar a nova terra, ao analisarmos sua carta podemos perceber o como o escrivão mostrou-se encantado com aquele povo de índole boa: “A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência.” A crença dos europeus no paraíso terrestre os levou a terem essa primeira visão dos povos americanos, os quais viviam em estado natural como Adão e Eva antes de conhecerem o pecado a respeito disto KOSHIBA ao analisar a Carta de CAMINHA comentam: “A bela aparência do índio, à sua robustez, de corpo asseado, saudável, Caminha relacionou imediatamente as aves e alimárias.” CAMINHA não economizou, apesar disso, palavras para mostrar o seu encanto e espanto por essa vida, surpreendente preservada em estado bruto. A leitura da carta em alguns trechos chega mesmo a ser poética ao falar das belezas naturais e dos habitantes. O encanto dos europeus com a nova terra é compreensivo, pois tudo que é novo causa fascínio, ou mesmo curiosidade. Em todos os escritos fica claro o estranhamento com a nudez indígena, pois era como se estes tão tivessem ainda o conhecimento do pecado. Porém logo esta mesma nudez seria encarada como o próprio pecado, e o estado natural nada mais seriam do que o estado de ausência de regras, a barbárie, um mundo incivilizado. E eles: europeus, cristão e brancos teriam o dever moral de levar a civilização a estes povos (altruísmo europeu) e se um “índio" por acaso ousasse a perguntar o que é civilização? Eles evidentemente responderiam: somos nós. Se a primeira visão é a que fica, no caso da América isso foi exceção, logo os europeus tentaram impor seus valores civilizados ao Novo Mundo.  O velho mito europeu do Bom Selvagem (índio bom, manso, ingênuo) ganharia espaço na América assim como o Bárbaro (selvagem, brabo, inimigo da civilização) este paradoxo se fez na verdade um empecilho para a compreensão do ameríndio como um ser humano normal, nem bom nem ruim, apenas um ser humano movido por o ideal de sobrevivência. Nem Peris, nem Iracemas, apenas homens tentando sobreviver.

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